Carta de alguém para o/a ex.
Eu não venho dizer-te que tenho saudades dos nossos dias, dos nossos sorrisos quando eramos um só, muito menos das noites em que dormíamos chateados um com o outro, ou das noites em que dormíamos bem. Eu quero dizer-te que sinceramente eu não te vou esquecer e sei que tu não me vais esquecer também. Quero dizer-te, do fundo do meu coração, que o amor não morre como eu achava que morria, não desaparece nem acaba como achávamos e contávamos para qualquer pessoa que perguntasse por nós.
Eu sei que a nossa história acabou. E sei que a melhor coisa a ser feita foi desistir de nós, desistir de magoar, desistir de tentar organizar a desarrumação que provocamos em nós. Eu sei que foi preciso desistir de continuar a jogar porque o amor nunca foi um jogo e só aprendemos isso quando chegamos ao xeque-mate e ficamos sem razões para continuar. Eu sei que o nosso relacionamento – que a certo momento se tornou num campo de guerra – chegou ao fim e que de seguida ambos entrámos numa batalha com nós mesmos para tentar esquecer o que vivemos. Mas eu quero dizer-te, com toda a certeza do mundo, que o amor não se acaba. O amor eterniza-se. Superar é uma coisa, esquecer é outra mas apagar é um processo completamente impossível. A gente tenta abstrair-se, mas esquecimento nenhum será suficiente para negar a nossa história. O que foi vivido continua para ser relembrado e o amor transforma-se em grandes lembranças.
Hoje não venho com palavras de ódio, nem culpar-te por nenhum episódio, ou tão-pouco colocar-me em cima de um pódio. Sim, houve um tempo em que o fiz. Tempo em que desejei cascas de banana no teu caminho, um bicho gordo na tua maçã, 28 portagens na tua estrada. Mas esse tempo já acabou.
Também não te vim acusar, nem mandar-te para nenhum sítio menos bonito, muito menos pedir-te para voltares. A mágoa foi inevitável, mas se não podemos mudar o passado, então temos que pensar num caminho alternativo melhor.
Vim com bandeira branca, apenas com um sorriso no rosto, a divertir-me com algumas lembranças que vêm à memória. Não vim criticar se já estás interessado noutra pessoa, nem venho retomar aquele clima de guerra, nem dizer qualquer coisa que não seja sincera.
Sinto também que devo pedir-te desculpas pela forma como te disse que acabou quando tu me enviaste uma mensagem a pedir perdão, quando ligaste para os nossos amigos em comum a pedir ajuda, quando me disseste que estavas sem chão. Quero dizer-te que não vim cobrar nada, não vim fazer jogo de azar nem assombrar-te. Quero desejar-te felicidade para o futuro, quero dizer-te que sarei e sou forte, porque sei que o que passou já pertence ao passado. Quero deixar-te um beijo porque me lembro do teu jeito de ser e sei que o receberás sem rancor. Quero deixar-te um abraço e dizer também que nada foi um fracasso.
Não vim propor-te uma bela amizade, nem um gelado ao final da tarde. Vim para te desejar alguma sorte, vim porque já voltei a ser forte. Porque querer-te bem é o melhor que eu faço e porque, definitivamente, já chega deste cansaço.
Vim dizer-te para ficares em paz, para respeitarmos o que deixamos para trás e para propor, finalmente, que a gente não se queira mal, apenas não se queira mais.
Texto de Iandê Albuquerque