Carta de uma filha abandonada para a mãe

Uma carta real de uma filha que foi abandonada pela mãe e que te vai fazer perceber que ter uma Mãe, no verdadeiro sentido da palavra, é um privilégio e portanto devíamos valorizar isso todos os dias.

Gostaria muito de começar esta carta por «Querida mãe» e acabar com «Obrigado por tudo. Amo-te», mas na realidade se o fizesse estaria a escrever estas palavras por outra pessoa, não por mim. Nunca te chamarei de mãe porque é uma palavra que não se adequa a ti, não tenho nada a agradecer-te durante as minhas duas décadas de vida, e amor, esse só sinto por aqueles que valem a pena, por aqueles que dariam a vida por mim e que todos os dias me mostram que a vida é bela.

Durante todos estes anos formulei muitas perguntas e sempre tentei procurar as respostas mais adequadas de forma a que tu não ficasses com aquela imagem de que tu és um ser humano desprezível. Sim, apesar de teres desaparecido e me teres deixar sem um «porquê?» não posso dizer que tenho raiva ou ódio de ti. Não por seres a mulher que me pôs no mundo, aliás quase todas as mulheres são capazes de ser progenitoras, mas ser mãe… Ser mãe é bem mais que isso, envolve tanto sentimento, tanta abdicação, tanto carácter que poucas o conseguem ser de verdade. Mas sou sincera, quando era mais nova senti raiva, revolta e muito ódio, não entendia o motivo de desapareceres, chegava a culpar-me pensando que eu é que não prestava, que eu tinha defeito. Não vou fingir que sempre me senti feliz com a tua partida, houve momentos de pranto, de choro, sentia tanta dor no peito que sufocava, olhava em meu redor e via que todos os meus amigos tinham mãe (sim, uma verdadeira mãe), sentia inveja e ciúmes porque sentia que era uma criança rejeitada. A verdade é que cheguei a desejar que tivesses morrido, preferia ter uma boa mãe e morta, do que ser uma criança deixada para trás.

O dia da mãe durante alguns anos fez-me muita confusão, magoava quando chegava aquele dia, mas sempre me fazia de forte, fazia na mesma a prendinha na escola e chegava a casa e oferecia àquela que apesar de ser minha avó me amou como uma mãe, aliás amou-me com a força de todas as mães do mundo. Era a única que conseguia perceber o vazio nos meus olhos naquele dia, sem me tratar como uma coitadinha.

Pensando melhor, tenho que reformular o início da carta, tenho algo a agradecer-te: obrigado por me teres proporcionado o melhor pai do mundo, e a melhor avó paterna do mundo, muito obrigado mesmo. Pelo menos escolheste o melhor pai!

Perguntei-me muitas vezes onde estarias e o que estarias a fazer, se ainda estavas viva ou se algo de pior te tinha acontecido, não me lembrava do teu cheiro nem do teu beijo, realmente só me lembro do pior que aconteceu, de todo o mal, talvez a minha memória eliminou o bem, ou talvez ele nunca tenha acontecido, não sei bem ao certo. Muitas vezes imaginei o nosso reencontro e até como correria, e por mais que tentasse imaginava sempre um fim trágico, talvez a minha veia dramática falasse mais alto.

Quando era uma criança nem o teu nome podia ouvir, parecia uma faca a atravessar-me o peito, aquele sentimento de culpa invadia-me e eu sofria tanto mas tanto. Agora passado duas décadas sou tão diferente, aprendi tanto com a vida, foi dura mas ensinou-me tudo o que sei e tornou-me tão melhor. Acredito que as coisas acontecem por um motivo, seja ele qual for, seja ele aceitável ou totalmente descabido. Aquelas perguntas de criança não desapareceram por completo, mas não perco tempo com elas, e aquela culpa massacrante simplesmente desapareceu, nenhuma criança é culpada pelos erros dos adultos, essa é a única certeza que tenho desta história.

Hoje em dia, passado tantos anos, sei onde te posso encontrar mas não quero, para mim és só mais alguém neste mundo. Não te amo nem te odeio, não te desejo bem nem te desejo mal, não te quero ver nem te quero evitar. Se com esta carta quero mostrar-te que te perdoei… Não! O perdão só merece quem mostra arrependimento. E isso nunca o mostraste. Espero que nunca os remorsos te invadam, pois causam tanto sofrimento que destroem-nos, por isso quero simplesmente que vivas a tua vida sem atropelos nem do bem nem do mal. Talvez a vida monótona seja a maior lição que a vida te possa dar.

E a vida ensinou-me algo indispensável: o amor de “mãe” não é incondicional!

Carta enviada por Dixie
(nome fictício).

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