Não poupes no carinho com quem mais te ama

Em algum momento da caminhada, talvez no fim, quando analisarmos o passado na tentativa de encontrar o sentido de tudo, vamos querer saber se tivemos importância real na vida de alguém. Vamos perguntar-nos se contribuímos para o mundo e para aqueles que nos cercam com o melhor que podíamos ser e fazer, se amamos com toda a verdade do nosso coração, se o fizemos com sinceridade e plenitude, se deixamos um legado de esperança, gratidão e inspiração por onde quer que a gente tenha passado, para quem quer que a gente tenha encontrado no caminho.

Em algum momento da caminhada, talvez no fim, quando analisarmos o passado na tentativa de encontrar o sentido de tudo, vamos querer sentir que valeu a pena viver, que apesar de todos os obstáculos, a nossa fé e a nossa confiança em nós mesmos foram sempre maiores do que o nosso medo, e que todos os momentos, bons e maus, serviram como oportunidade incrível de aprendizagem e evolução espiritual.

Em algum momento da vida, vamos olhar para trás e perguntar-nos como escolhemos tratar quem nos ama. E vamos querer saber se poupamos no carinho ou se amamos de forma plena essas pessoas, com paciência, respeito, gratidão e amor. Será que lhes oferecemos o nosso melhor? Será que fomos realmente presentes e generosos com quem sempre quis o nosso bem? Será que lhes demos o tempo, a atenção, a aceitação e o afeto que elas mereciam receber?

Em algum momento da vida, vamos surpreender-nos com uma verdade simples. E dolorosa: enquanto costumamos oferecer flores para o mundo exterior, no aconchego do nosso lar, junto a quem mais deveria receber a nossa gratidão e o nosso amor, atiramos pedras e palavras ríspidas, com a desculpa de que ali podemos ser nós mesmos, sem máscaras e sem disfarces. Quem mais nos ama, geralmente, recebe de nós a nossa pior versão.

Tu já paraste para pensar nisso? Em como é mais fácil descontar as nossas frustrações, as nossas culpas, as nossas raivas e as nossas insatisfações em quem mais nos quer bem nesta vida? Em como cedemos o nosso tempo para coisas e pessoas que estão só de passagem no nosso mundo, enquanto quem realmente se importa e se preocupa connosco por vezes recebe de nós pouca ou quase nenhuma atenção? Porque será que somos mais educados, mais pacientes, mais bem-humorados e mais prestáveis com todos os outros, enquanto quem sempre nos estende a mão, sem pedir nada em troca, por vezes recebe patadas, palavras ríspidas e mau humor? Será que é porque com eles podemos ser nós mesmos? Será que é porque não importa o que a gente faça com eles ou como os tratemos, por nos amarem, eles serão e estarão sempre aí para nós? Mas que tipo de pessoa nós somos, afinal? Que papéis estamos a interpretar para o mundo? Para quem e no que estamos a gastar a nossa energia, o nosso tempo e a colocar toda a nossa atenção?

Em algum momento da vida, será hora de parar e refletir sobre o amor ingrato e ausente que estamos a oferecer a quem mais nos quer bem. E sobre quem realmente somos, sobre a consistência das nossas ações e palavras, sobre a diferença que queremos fazer na vida de alguém. Quem te ama e realmente se importa contigo é quem mais merece a tua atenção, a tua consideração, a tua paciência, a tua aceitação, o teu respeito, o teu tempo, a tua energia e o teu amor. Quem te ama e realmente se importa contigo é quem mais merece o teu melhor sorriso, a tua melhor versão, a palavra mais bonita e o agradecimento mais verdadeiro que possa existir.

Porque, sabes, em algum momento da caminhada, talvez no fim, quando analisarmos o passado à procura do sentido de tudo, vamos perceber que foram essas as pessoas que sempre estiveram do nosso lado, nas alegrias e nas tristezas, nas pequenas e grandes descobertas, nas vezes em que pensamos em desistir de tudo, parar de remar, sucumbir. Foi com a palavra delas que a gente pôde contar quando tudo parecia ruir. Foi no colo, no ombro, no olhar de incentivo e no sorriso sincero de empatia dessas pessoas que a gente pôde encontrar novamente a nossa paz. Foram elas que nos ajudaram a gerar mais energia, mais força e mais coragem para travarmos outras lutas, outras batalhas. Foram elas que seguraram a lanterna, enquanto procurávamos a melhor direcção para seguir.

Em algum momento da vida, será hora de recalcular a rota, mudar a direção, olhar para quem mais nos ama neste mundo e agradecer.

A hora é agora. Não poupes no carinho com quem mais te ama.

No fim, é assim que avaliamos o sentido da nossa vida.

Texto de Ana Paula

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