O amor completo é quando tu queres o outro sempre perto.
Em 2013, poucos dias antes do dia dos namorados, a minha namorada terminou comigo. Eu fiquei sem entender.
Voltei para casa e durante todo o caminho perguntava-me: “Porquê?”.
A única coisa que vinha à minha cabeça era a voz dela a dizer: “Eu amo-te”.
Eu passei um mês a sofrer, à procura de respostas para o que estava a acontecer.
Um dia, entrei a chorar no quarto do meu pai e perguntei:
“Pai, ela dizia que me amava.
Então, porque é que ela terminou comigo?”.
Ele respondeu: “Meu filho, Quando alguém entra na tua vida e depois de algum tempo vai embora, pode ser qualquer coisa menos amor”.
Eu disse: “Não dá para entender. Um dia, existe amor e no outro tudo acabou”.
Ele respondeu: “Tu nunca vais superar os teus traumas se continuares a procurar no amor uma lógica. Constrói uma nova história”.
Eu perguntei: “E de onde vem essa força para começar algo novo?”
Ele respondeu: “Não te preocupes com isso. Todo o começo vem de um final”.
Uma semana depois, o meu pai foi diagnosticado com uma doença rara e degenerativa que iria matá-lo em alguns dias. A minha mãe não o abandonou.
Ela ficou.
O meu pai saía todas as sextas para comer pizza com dois irmãos.
Quando ele parou de andar, os meus tios começaram a trazer a pizza aqui em casa.
Eles diziam:
“Sem o teu pai, não tem graça”.
E ficavam a noite inteira a dar gargalhadas.
Hoje, o meu pai não consegue mais comer.
Mesmo assim, todas as sextas os meus tios passam aqui em casa.
No dia da formatura do meu pai ele combinou com três amigos de se encontrarem de cinco em cinco anos.
Este ano, o meu pai não pôde ir porque ele não anda mais.
Os amigos dele vieram de muito longe até aqui em casa.
Todo o estudante universitário tem uma foto pregada na parede na república em que estudou.
Os amigos do meu pai trouxeram a foto dos quatro.
Pregaram a foto de cada um na parede do quarto e disseram:
“Agora, a nossa república é a tua casa”.
E combinaram que daqui cinco anos estariam de volta.
O meu pai chorou.
Os meus pais completaram 47 anos de casados dia 2 de junho.
Eles sempre dançaram nesse dia.
O meu pai não consegue mais levantar-se.
A minha mãe entrou no quarto e colocou a música que eles costumavam dançar.
Ela disse:
“Meu filho, traz a cadeira de rodas”.
Eu perguntei:
“O que vais fazer?”
Ela respondeu:
“Vou fazer o que o teu pai faria por mim”.
Eu fui buscar a cadeira de rodas.
A minha mãe colocou o meu pai na cadeira.
Ela ajoelhou-se ao lado dele e disse:
“Vamos dançar”.
Abraçou o meu pai e fez a cadeira girar.
Ela ficou ajoelhada a música toda.
O meu pai chorava e ria ao mesmo tempo.
Eles ficaram ali a dançar e a divertir-se.
Eu voltei para o meu quarto a chorar.
Abri o notebook e resolvi escrever este texto.
Porque eu vejo o mundo a distorcer ou a complicar demais o amor.
Um monte de gente a dizer “fica com alguém que faz isso, que faz aquilo, que te dê isso, que não sei o que mais.”
Esse monte de regras e exigências, são coisas criadas pela cabeça.
E, meu amigo, não sei se tu sabes, mas o amor é criado pelo coração.
O resto, é ilusão.
Então, acredita.
O amor, amor completo é quando tu queres o outro sempre perto.
Só isso.
Texto de Ique Carvalho