Para ela, e para o que vier a seguir.
Nunca devíamos ter terminado assim. Depois do que tivemos. Depois do que passámos. Faltou-nos uma conversa a sério, depois de tudo. Em vez disso preferimos dar ouvidos ao nosso orgulho, e não o colocar de lado. Fomos teimosos. Caramba, somos tão teimosos…
Na altura, estávamos tão cegos, quando não era suposto, e nunca fizemos valer realmente a pena. Findada a nossa história, carrego um vazio gélido, que parece ser incontornável. Arrepiante.
Após este tempo todo, agradeço-te por me teres fortalecido. Criaste um escudo nestas matérias do coração e mostraste-me que devo ter outra paciência. No amor, o coração abafa a razão, mas é importante que a escutemos, de vez em quando. Para nos protegermos, essencialmente. Para nos salvaguardarmos, e para que a queda não seja tão dolorosa.
Confesso que ainda existem momentos em que me lembro de nós. Desculpa, de mim e de ti. Da amizade que construímos e que tínhamos, no princípio. O mais importante. O que ainda resta, e que pode ser recuperado, mais cedo ou mais tarde.
Nunca nos poupámos e acabamos por chegar a este ponto. Do desconhecimento. Realço que não sinto ódio por ti. Nem um pingo. O ódio que persistia, já o guardei, a milhas daqui. Hoje, prefiro lembrar a surpresa que fomos, na nossa fase inicial. E é o tudo.
Depois de ti, já não sei o que é amar. Depois de ti, já não sei o que é chorar por amor. Depois de ti já não consigo fazer amor, com a mesma paixão. Não consigo surpreender ninguém pela manhã. Não existe a vontade. Perdi a atenção. Perdi-me no meu próprio umbigo. Perdi parte do que era, e só penso em aproveitar umas breves horas. Aborrece-me a perda de tempo.
Um dia destes, começarei do início. Começarei do zero. Farei tudo diferente. Aprendi a lição. Cuidarei do meu amor como se nascesse de novo. Um dia. Não procuro, obsessivamente, esse dia. Esperarei por ele, e pelo que ele me consiga surpreender. Um dia, tudo fará sentido, porque nada acontece por acaso.
Tudo acontece por uma razão.
Texto de Manuel Chau