Perdoar também cansa

Amar não é aceitar tudo. Aliás, onde tudo é aceite, desconfio que há falta de amor.

Uma das dúvidas que nos acompanham enquanto temos um compromisso com alguém diz respeito ao perdão – o quê, como, quantas vezes perdoaremos? Vale a pena?

Ninguém é perfeito, todos erramos, machucamos e decepcionamos as pessoas que nos amam, e vice-versa. O perdão faz parte da dinâmica de fortalecimento dos relacionamentos amorosos, pois na maioria das vezes traz aprendizado e mudança positiva de atitudes. Porém, ter que perdoar todos os dias os erros que se repetem e acumulam acaba por extenuar as nossas forças e nos fazer duvidar se aquilo tudo vale mesmo a pena.

No início da relação, as pessoas vão se conectando mais fortemente, sentindo-se, descobrindo-se, tateando os terrenos em busca de tudo aquilo que é encantador no outro. Faz parte da conquista e do fortalecimento da união explorar o parceiro, a sua personalidade, anseios e pontos de vista, para que o sentimento se fortaleça mais e mais.

Nessa fase em que estamos a conhecer a outra pessoa, inevitavelmente iremos nos decepcionar com mais frequência. Com o passar do tempo, já sabemos bem como agradar ou desagradar o nosso companheiro, ou seja, quanto mais conhecermos a pessoa que está ao nosso lado, menos teremos chances de errar em relação a ela. Infelizmente, para muitos, isso não acontece; os erros se repetem e/ou aumentam ao longo do tempo.

Nesses casos, é importante encarar a questão sobre se vale ou não a pena perdoar tantas e tantas vezes. Muitos nos aconselharão a desistir e a partir para outra, outros pedirão que ouçamos o nosso coração e talvez haja até quem nos encoraje a tentar de novo. É muito difícil opinarmos sobre a vida dos outros, pois somente quem passa pelos acontecimentos e sofre com eles é que sabe o quanto dói, o quanto aquilo importa, o tanto amor que ainda resta e merece ser mantido e cuidado.

Seguramente, o perdão deve sempre vir acompanhado de ressalvas, não devendo ser concedido de forma incondicional, pois tudo o que é fácil demais não traz motivação para a outra pessoa refletir e mudar para melhor. Da mesma forma, devemos perdoar enquanto ainda houver esperança lúcida e ponderada de que conseguiremos conviver com aquilo, sem nos atrapalhar emocionalmente. Perdoar enquanto ainda se carrega dentro do peito uma mágoa que teima em não cessar não significa perdoar realmente, e isso certamente transbordará um dia ou outro.

É difícil fugir às decepções com as atitudes alheias, e decepcionar-se com quem amamos demais é muito difícil, sendo que muitas vezes tentamos buscar em nós mesmos a culpa pelas falhas do outro. É sempre bom analisarmos a forma como estamos vivendo e compartilhando as nossas vidas, de maneira a tentarmos não nos esquecer do nosso próprio bem estar, em favor de algo que já pode ter acabado.

Não podemos esquecer: só vale a pena perdoar alguém se essa pessoa tiver aprendido com o erro e corrigido o seu comportamento. Se isso não acontecer, é melhor optarmos por recomeçar, sem rancor, sozinhos ou com alguém que nos mereça de verdade. Não nos devemos esquecer da sabedoria popular, que tão bem nos ensina a antes estarmos sós do que mal acompanhados.

Texto de Marcel Camargo

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