Pode demorar, mas quando digo “chega”, é para nunca mais

Por mais que amemos, por mais que nos dediquemos e alimentemos esperanças em relação aos nossos relacionamentos, por mais que queiramos, nem sempre o outro está disposto a oferecer retorno. Ou tentamos então manter uma relação unilateral, que pende somente sobre as nossas cabeças, ou tomamos fôlego e percebemos que chega de sermos tontos.

Não é fácil termos a noção exata de quando estamos a embarcar num barco furado, de quando já fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, sem resultado. Da mesma forma, podemos nos enganar quanto às reais intenções de alguém, caso sejamos o tipo de pessoa que espera demais, além da conta, sem prestar muita atenção no que o outro tem realmente para dar.

Quando prestamos a atenção devida e refletimos com sobriedade acerca da forma como o nosso relacionamento vem sendo construído, teremos a resposta aos nossos questionamentos, por mais dolorosa que ela seja. No fundo, nós sabemos bem se estamos a receber amor verdadeiro, se estamos a viver a troca, a partilha, a soma de que se deve constituir qualquer relacionamento amoroso.

Infelizmente, muitas pessoas mal percebem os nossos sinais quando nós estamos a despedir-nos a pouco e pouco, quando ambos os olhares deixaram de se cruzar, quando as mãos pararam de se procurar, quando o coração arrefeceu o ritmo e a intensidade das suas batidas, quando o adeus há muito já se instalou. Então, quando se dão conta, nós já nem estávamos mais ali ao lado e já tínhamos tomado a decisão de partir, em busca de ares menos densos onde pudéssemos respirar de forma tranquila, onde não fossemos nem nos sentíssemos invisíveis. É preciso ter consciência de que a única coisa que o vazio nos devolve é o eco da nossa própria e inútil insistência em algo que não tem futuro.

É assim que muitas pessoas se perdem umas das outras, após sofrerem caladas e solitárias por terem sido a única parte que se entregou por inteiro, e em vão, por dias, meses, anos. E quando finalmente tomamos a decisão de sair dali, de nos libertarmos daquele vazio que suga a nossa essência, nada mais importará, nada mais nos fará tentar de novo, porque o cansaço já terá varrido qualquer afetividade de dentro de nós.

Felizmente, nós seguiremos em frente sempre prontos para recomeçar, pois continuaremos a levar na nossa bagagem a nossa capacidade de amar com verdade, com entrega, de corpo e alma. Ah, o amor então virá, melhor e mais feliz. Amor para uma vida toda.

Texto de Marcel Camargo

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